As oferendas dos homens aos orixás devem ser
transportadas até o mundo dos deuses. Exú tem este encargo, de transportador.
Também é preciso saber se os orixás estão satisfeitos com a atenção a eles
dispensada pelos seus descendentes, os seres humanos. Exú propicia essa
comunicação, traz suas mensagens, é o mensageiro. É fundamental para a
sobrevivência dos mortais receber as determinações e os conselhos que os orixás
enviam do Aiê. Exú é o portador das orientações e ordens, é o porta-voz dos
deuses e entre os deuses. Exú faz a ponte entre este mundo e mundo dos orixás,
especialmente nas consultas oraculares. Como os orixás interferem em tudo o que
ocorre neste mundo, incluindo o cotidiano dos viventes e os fenômenos da
própria natureza, nada acontece sem o trabalho de intermediário do mensageiro e
transportador Exú. Nada se faz sem ele, nenhuma mudança, nem mesmo uma
repetição. Sua presença está consignada até mesmo no primeiro ato da Criação:
sem Exú, nada é possível. O poder de Exú, portanto, é incomensurável.
Exú deve então receber os sacrifícios votivos, deve ser
propiciado, sempre que algum orixá recebe oferenda, pois o sacrifício é o único
mecanismo através do qual os humanos se dirigem aos orixás, e o sacrifício
significa a reafirmação dos laços de lealdade, solidariedade e retribuição
entre os habitantes do Aiê e os habitantes do Orum. Sempre que um orixá é
interpelado, Exú também o é, pois a interpelação de todos se faz através dele.
É preciso que ele receba oferenda, sem a qual a comunicação não se realiza. Por
isso é costume dizer que Exú não trabalha sem pagamento, o que acabou por
imputar-lhe, quando o ideal cristão do trabalho desinteressado da caridade se
interpôs entre os santos católicos e os orixás, a imagem de mercenário,
interesseiro e venal
Como mensageiro dos deuses, Exú tudo sabe, não há
segredos para ele, tudo ele ouve e tudo ele transmite. E pode quase tudo, pois
conhece todas as receitas, todas as fórmulas, todas as magias. Exú trabalha
para todos, não faz distinção entre aqueles a quem deve prestar serviço por
imposição de seu cargo, o que inclui todas as divindades, mais os antepassados
e os humanos. Exú não pode ter preferência por este ou aquele. Mas talvez o que
o distingue de todos os outros deuses é seu caráter de transformador: Exú é
aquele que tem o poder de quebrar a tradição, pôr as regras em questão, romper
a norma e promover a mudança. Não é, pois de se estranhar que seja considerado
perigoso e temido, posto que se trata daquele que é o próprio princípio do
movimento, que tudo transforma, que não respeita limites e, assim, tudo o que
contraria as normas sociais que regulam o cotidiano passa a ser atributo seu.
Exú carrega qualificações morais e intelectuais próprias do responsável pela
manutenção e funcionamento do status quo, inclusive representando o princípio
da continuidade garantida pela sexúalidade e reprodução humana, mas ao mesmo
tempo ele é o inovador que fere as tradições, um ente, portanto nada confiável,
que se imagina, por conseguinte, ser dotado de caráter instável, duvidoso,
interesseiro, turbulento e arrivista.
Para um iorubá ou outro africano tradicional, nada é mais
importante do que ter uma prole numerosa e para garanti-la é preciso ter muitas
esposas e uma vida sexúal regular e profícua. É preciso gerar muitos filhos, de
modo que, nessas culturas antigas, o sexo tem um sentido social que envolve a
própria idéia de garantia da sobrevivência coletiva e perpetuação das
linhagens, clãs e cidades. Exú é o patrono da cópula, que gera filhos e garante
a continuidade do povo e a eternidade do homem. Nenhum homem ou mulher pode se
sentir realizado e feliz sem uma numerosa prole, e a atividade sexúal é
decisiva para isso. É da relação íntima com a reprodução e a sexúalidade, tão
explicitadas pelos símbolos fálicos que o representam, que decorre a construção
mítica do gênio libidinoso, lascivo, carnal e desregrado de Exú-Elegbara
Isso tudo contribuiu enormemente para modelar sua imagem
estereotipada de orixá difícil e perigoso que os cristãos reconheceram como
demoníaca. Quando a religião dos orixás, originalmente politeísta, veio a ser
praticada no Brasil do século XIX por negros que eram ao mesmo tempo católicos,
todo o sistema cristão de pensar o mundo em termos do bem e do mal deu um novo
formato à religião africana, no qual um novo papel esperava por Exú. O
sincretismo não é, como se pensa, uma simples tábua de correspondência entre
orixás e santos católicos, assim como não representava o simples disfarce
católico que os negros davam ao seus orixás para poder cultuá-los livres da
intransigência do senhor branco, como de modo simplista se ensina nas escolas
até hoje. O sincretismo representa a captura da religião dos orixás dentro de
um modelo que pressupõe, antes de mais nada, a existência de dois pólos
antagônicos que presidem todas as ações humanas: o bem e o mal; de um lado a
virtude, do outro o pecado. Essa concepção, que é judaico-cristã, não existia
na África. As relações entre os seres humanos e os deuses, como ocorre em
outras antigas religiões politeístas, eram orientadas pelos preceitos
sacrificiais e pelo tabu, e cada orixá tinha suas normas prescritivas e
restritivas próprias aplicáveis aos seus devotos particulares, como ainda se
observa no candomblé, não havendo um código de comportamento e valores único
aplicável a toda a sociedade indistintamente, como no cristianismo, uma lei
única que é a chave para o estabelecimento universal de um sistema que tudo
classifica como sendo do bem ou do mal, em categorias mutuamente exclusivas.
O lado do bem, digamos, foi assim preenchido pelos
orixás, exceto Exú, ganhando Oxalá, o orixá criador da humanidade, o papel de
Jesus Cristo, o deus Filho, mantendo-se Oxalá no topo da hierarquia, posição
que já ocupava na África, donde seu nome Orixalá ou Orixá Nlá, que significa o
Grande Orixá. O remoto e inatingível deus supremo Olorum dos iorubás ajustou-se
à concepção do deus Pai judaico-cristão, enquanto os demais orixás ganharam a
identidade de santos. Mas ao vestirem a camisa de força de um modelo que
pressupõe as virtudes católicas, os orixás sincretizados perderam muito de seus
atributos originais, especialmente aqueles que, como no caso da sexúalidade
entendida como fonte de pecado, podem ferir o campo do bem, como explicou
Monique Augras, ao mostrar que muitas características africanas das Grandes
Mães, inclusive Iemanjá e Oxum, foram atenuadas ou apagadas no culto brasileiro
dessas deusas e passaram a compor a imagem pecaminosa de Pombagira, o Exú
feminizado do Brasil, no outro pólo do modelo, em que Exú reina como o
senhor do mal.
É evidente que em certos terreiros da religião dos
orixás, sobretudo em uns poucos candomblés antigos mais próximos das raízes
culturais africanas, cultiva-se uma imagem de Exú calcada em seu papel de orixá
mensageiro dos deuses, cujas atribuições não são muito diferentes daquelas
trazidas da África. Nesse meio restrito, sua figura continua sendo
contraditória e problemática, mas é discreta sua ligação sincrética com o diabo
católico. O mesmo não ocorre quando olhamos para a imagem de Exú cultivada por
religiões oponentes, imagem que é largamente inspirada nos próprios cultos
afro-brasileiros e que descrevem Exú como entidade essencialmente do mal. A
imagem de Exú consolidada por essas religiões, especialmente as evangélicas,
que usam fartamente o rádio e a televisão como meios de propaganda religiosa,
extravasa para os mais diferentes campos religiosos e profanos da cultura
brasileira e faz dele o diabo brasileiro por excelência.
No interior do segmento afro-brasileiro, podemos, contudo
observar nos dias de hoje um movimento que encaminha Exú numa espécie de
retorno aos seus papéis e status africanos tradicionais. Em terreiros de
candomblé que defendem ou reintroduzem concepções, mitologia e rituais buscados
na tradição africana, tanto quanto possível, especialmente naqueles terreiros
que têm lutado por abandonar o sincretismo católico, Exú é enfaticamente
tratado como um orixá igual aos demais, buscando-se apagar as conotações de
diabo, escravo e inimigo que lhe tem sido comumente atribuídas. No candomblé
cada membro do culto deve ser iniciado para um orixá específico, que é aquele
considerado o seu antepassado mítico, sua origem de natureza divina. Os que
eram identificados pelo jogo oracular dos búzios como filhos de Exú estavam
sujeitos a ser reconhecidos como filhos do diabo e, por isso, acabavam sendo
iniciados para outro orixá, especialmente para Ogum Xoroquê, uma qualidade de
Ogum com profundas ligações com o mensageiro. Até pouco tempo, eram raros e
notórios os filhos de Exú iniciados para Exú. Isso vem mudando à medida que
avança o movimento de dessincretização e já há filhos de Exú orgulhosos de sua
origem.
Hoje em dia, em muitos terreiros de candomblé, concepções
e práticas católicas que foram incorporadas à religião dos orixás em solo
brasileiro vão sendo questionadas e deixadas de lado. Quando isso ocorre, Exú
vai perdendo, dentro do mundo afro-brasileiro, a condição de diabo que a visão maniqueísta do catolicismo a respeito do bem
e do mal a ele impingiu, uma vez que foi exatamente a cristianização dos orixás
que transformou Oxalá em
Jesus Cristo , Iemanjá em Nossa Senhora ,
outros orixás em santos católicos, e Exú no diabo. Nesse processo de
dessincretização, que é um dos aspectos do processo de africanização por que
passa certo segmento do candomblé, Exú tem alguma chance de voltar a ser
simplesmente o orixá mensageiro que detém o poder da transformação e do
movimento, que vive na estrada, freqüenta as encruzilhadas e guarda a porta das
casas, orixá controvertido e não domesticável, porém nem santo nem demônio.
Características
Cor
|
Preto e Vermelho
|
Fio de Contas
|
Preto e Vermelho
|
Ervas
|
Pimenta, capim tiririca,
urtiga. Arruda, salsa, hortelã
|
Símbolo
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Bastão – agô, Tridente
|
Pontos da Natureza
|
Encruzilhadas e passagens.
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Flores
|
Cravos Vermelhos
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Essências
|
-
|
Pedras
|
Granada, Rubi, Turmalina
Negra, Onix
|
Metal
|
Ferro
|
Saúde
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Dores de cabeça relacionadas
a problemas de fígado
|
Planeta
|
Mercúrio
|
Dia da Semana
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Segunda-feira
|
Elemento
|
Fogo
|
Chakra
|
Básico, Sacro
|
Saudação
|
Laroiê Exú, Exú ê, Exú
Amogibá
|
Bebida
|
Cachaça
|
Animais
|
Cachorro, Galinha Preta
|
Comidas
|
Padê
|
Numero
|
-
|
Data Comemorativa
|
13 de Junho
|
Sincretismo
|
Diabo, Santo Antônio.
|
Incompatibilidades
|
Leite, Comidas Brancas e Sal
|
Vigia as passagens, abre e fecha os caminhos. Por isso
ajuda a resolver problemas da vida fora de casa e a encontrar caminhos para
progredir,além de proteger contra perigos e inimigos.
Lendas
De Exú
Porque Exú Recebe Oferendas Antes Dos Outros Orixás
Exu
foi o primeiro filho de Iemanjá e Oxalá. Ele era muito levado e gostava de
fazer brincadeiras com todo mundo. Tantas fez que foi expulso de casa. Saiu
vagando pelo mundo, e então o país ficou na miséria, assolado por secas e
epidemias. O povo consultou Ifá, que respondeu que Exu estava zangado porque
ninguém se lembrava dele nas festas; e ensinou que, para qualquer ritual dar
certo, seria preciso oferecer primeiro um agrado a Exu. Desde então, Exu recebe
oferendas antes de todos, mas tem que obedecer aos outros Orixás, para não
voltar a fazer tolices. Vingança de Exú
Exú Instaura O Conflito Entre Iemanjá, Oiá E Oxum.
Um dia, foram juntas ao mercado Iansã e Oxum, esposas de
Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum. Exú entrou no mercado conduzindo uma cabra,
viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de
Iemanjá, Iansã e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orumilá.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua
cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido.
Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exú partiu. A cabra foi vendida por vinte
búzios. Iemanjá, Iansã e Oxum puseram os dez búzios de Exú a parte e começaram
a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três
búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em
três partes iguais. Da mesma forma Iansã e Oxum tentaram e não conseguiram
dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria
com a maior parte.
Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a
maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais”. Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá,
afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que
por isso lhe cabia.
Iansã intercedeu, dizendo que, em caso de contenda
semelhante, a maior parte caberia à do meio. As três não conseguiam resolver a
discussão.
Não havia meio de resolver a divisão. Exú voltou ao
mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez
búzios delas de modo eqüitativo. Exú deu três a Iemanjá, três a Oiá e três a
Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com
terra. Exú disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume
que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar
dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos
sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o
jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser. Quando qualquer
coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não
deve haver disputa pelos búzios.”
Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exú estava certo. E
concordaram em aceitar três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió
passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando
sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes
da fortuna.
Exú Torna-Se
O Amigo Predileto De Orumilá
Como se explica a grande amizade entre Orumilá e Exú,
visto que eles são opostos em grandes aspectos?
Orumilá filho mais velho de Olorum, foi quem trouxe aos
humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exú, pelo contrario, sempre se
esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos
Orixás. Orumilá era calmo e Exú, quente como o fogo.
Mediante o uso de conchas adivinhas, Orumilá revelava aos
homens as intenções do supremo deus Olorum e os significados do destino.
Orumilá aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exú os emboscava na
estrada e fazia incertas todas as coisas. O caráter de Orumilá era o destino, o
de Exú, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.
Uma vez, Orumilá viajou com alguns acompanhantes. Os
homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orumilá portava uma sacola na qual
guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro.
Mas na comitiva de Orumilá muitos tinham inveja dele e
desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito
gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orumilá. Um outro também se
dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal
sacola.
Até que Orumilá encerrou o assunto dizendo: "Eu não
estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".
Quando Orumilá chegou em casa, refletiu sobre o incidente
e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano
para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que
havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá
Orumilá esperou.
Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio
expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande
amigo de Orumilá e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que,
por gratidão, Orumilá lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.
A esposa de Orumilá pareceu compreendê-lo, mas disse que
a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado. Outro homem veio
chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora
desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exú
chegou. Exú também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas
disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem
cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orumilá não lhe devia nada. Exú disse
que não. A esposa de Orumilá persistiu, perguntando se Exú não queria a
parafernália de adivinhação. Exú negou outra vez. Aí Orumilá entrou na sala,
dizendo: "Exú, tu és sim meu verdadeiro amigo!". Depois disso
nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exú e Orumilá.
Exú Leva Aos Homens O Oráculo De Ifá
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por
longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na
Terra. Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre
si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os
deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados
pelos homens? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham
fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os
homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exú pegou a estrada e foi em
busca de solução. Exú foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a
boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já
tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer
sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exú matará todos os homens, mas eles
não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos
homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução
em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a
morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de
tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exú retornou o seu caminho e foi procurar
Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses
tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma
coisa que os satisfaça. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa
que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e
entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exú foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar
dos macacos dezesseis cocos. Exú pensou e pensou, mas não atinava no que fazer
com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exú, não sabes o que fazer
com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar
pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares
para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares
recolheras dezesseis odus, recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos.
Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai
juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás
dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina
aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exú de novo".
Exú fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exú
mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso
é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus
descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os
desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis
cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande
quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer
sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam
a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam
satisfeitos e felizes. Foi assim que Exú trouxe aos homens o Oráculo de Ifá.
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