Ogum
Divindade masculina ioruba, figura que
se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal. Ogum é o
arquétipo do guerreiro. Bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser
associado à luta, à conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está
mais próxima dos seres humanos. É sincretizado com São Jorge ou com Santo
Antônio, tradicionais guerreiros dos mitos católicos, também lutadores,
destemidos e cheios de iniciativa.
A relação de Ogum com os militares
tanto vem do sincretismo realizado com São Jorge, sempre associado às forças
armadas, como da sua figura de comandante supremo ioruba. Dizem as lendas que
se alguém, em meio a uma batalha, repetir determinadas palavras (que são do
conhecimento apenas dos iniciados), Ogum aparece imediatamente em socorro
daquele que o evocou. Porém, elas (as palavras) não podem ser usadas em outras
circunstâncias, pois, tendo excitado a fúria por sangue do Orixá, detonaram um
processo violento e incontrolável; se não encontrar inimigos diante de si após
ter sido evocado, Ogum se lançará imediatamente contra quem o chamou.
É orixá das contendas, deus da guerra.
Seu nome, traduzido para o português, significa luta, batalha, briga. É filho
de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxossi. Por este último nutre um enorme
sentimento, um amor de irmão verdadeiro, na verdade foi Ogum quem deu as armas
de caça à Oxossi. O sangue que corre no nosso corpo é regido por Ogum.
Considerado como um orixá impiedoso e cruel, temível guerreiro que brigava sem
cessar contra os reinos vizinhos, ele até pode passar esta imagem, mas também
sabe ser dócil e amável. É a vida em sua plenitude.
A violência e a energia, porém não
explicam Ogum totalmente. Ele não é o tipo austero, embora sério e dramático,
nunca contidamente grave. Quando irado, é implacável, apaixonadamente
destruidor e vingativo; quando apaixonado, sua sensualidade não se contenta em
esperar nem aceita a rejeição. Ogum sempre ataca pela frente, de peito aberto,
como o clássico guerreiro.
Ogum não era, segundo as lendas,
figura que se preocupasse com a administração do reino de seu pai, Odudua; ele
não gostava de ficar quieto no palácio, dava voltas sem conseguir ficar parado,
arrumava romances com todas as moças da região e brigas com seus namorados.
Não se interessava pelo exercício do poder já
conquistado, por que fosse a independência a ele garantida nessa função pelo
próprio pai, mas sim pela luta.
Ogum, portanto, é aquele que gosta de
iniciar as conquistas mas não sente prazer em descansar sobre os resultados
delas, ao mesmo tempo é figura imparcial, com a capacidade de calmamente
exercer (executar) a justiça ditada por Xangô. É muito mais paixão do que
razão: aos amigos, tudo, inclusive o doloroso perdão: aos inimigos, a cólera
mais implacável, a sanha destruidora mais forte.
Ogum é o deus do ferro, a divindade
que brande a espada e forja o ferro, transformando-o no instrumento de luta.
Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta, sendo o padroeiro de todos
os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, militares, soldados,
ferreiros, trabalhadores, agricultores e, hoje em dia, mecânicos, motoristas de
caminhões e maquinistas de trem. É, por extensão o Orixá que cuida dos
conhecimentos práticos, sendo o patrono da tecnologia. Do conhecimento da guerra
para o da prática: tal conexão continua válida para nós, pois também na
sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das
pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à produção de objetos
de consumo civil, o que é particularmente notável na industria automobilística,
de computação e da aviação.
Assim, Ogum não é apenas o que abre as
picadas na matas e derrota os exércitos inimigos; é também aquele que abre os
caminhos para a implantação de uma estrada de ferro, instala uma fábrica numa
área não industrializada, promove o desenvolvimento de um novo meio de
transporte, luta não só contra o homem, mas também contra o desconhecido.
É, pois, o símbolo do trabalho, da atividade criadora do
homem sobre a natureza, da produção e da expansão, da busca de novas
fronteiras, de esmagamento de qualquer força que se oponha à sua própria
expansão.
É fácil, nesse sentido, entender a
popularidade de Ogum: em primeiro lugar, o negro reprimido, longe de sua terra,
de seu papel social tradicional, não tinha mais ninguém para apelar, senão para
os dois deuses que efetivamente o defendiam: Exu (a magia) e Ogum (a guerra);
Em segundo lugar, além da ajuda que pode prestar em qualquer luta, Ogum é o
representante no panteão africano não só do conquistador, mas também do
trabalhador manual, do operário que transforma a matéria-prima em produto
acabado: ele é a própria apologia do ofício, do conhecimento de qualquer
tecnologia com algum objetivo produtivo, do trabalhador, em geral, na sua luta
contra as matérias inertes a serem modificadas.
É o dono do Obé (faca) por isso nas
oferendas rituais vem logo após Exú porque sem as facas que lhe pertencem não
seriam possíveis os sacrifícios. Ogum é o dono das estradas de ferro e dos
caminhos. Protege também as portas de entrada das casas e templos (Um símbolo
de Ogum sempre visível é o màrìwò (mariô) - folhas do dendezeiro (igi öpë)
desfiadas, que são colocadas sobre as portas das casas de candomblé como
símbolo de sua proteção).
Ogum também é considerado o Senhor dos
caminhos. Ele protege as pessoas em locais perigosos, dominando a rua com o
auxílio de Exú. Se Exú é dono das encruzilhadas, assumindo a responsabilidade
do tráfego, de determinar o que pode e o que não pode passar, Ogum é o
dono dos caminhos em si, das ligações que se estabelecem entre os diferentes
locais.
Uma frase muito dita no Candomblé, e que agrada muito
Ogum, é a seguinte: “Bi omodé bá da ilè, Kí o má se da Ògún”. (Uma pessoa pode
trair tudo na Terra Só não deve trair Ogum).
Ogum foi casado com IANSÃ que o
abandonou para seguir XANGÔ. Casou-se também com OXUM, mas vive só, batalhando
pelas estradas e abrindo caminhos.
Características
Cor-
Vermelha (Azul Rei) (Em algumas
casas também o verde)
Fio
de contas - Contas e Firmas Vermelhas
Leitosas
Ervas
- Peregum (verde), São Gonçalinho,
Quitoco, Mariô, Lança de Ogum, Coroa de Ogum, Espada de Ogum, Canela de Macaco,
Erva Grossa, Parietária, Nutamba, Alfavaquinha, Bredo, Cipó Chumbo. (Em algumas casas: Aroeira, Pata de Vaca,
Carqueja, Losna, Comigo Ninguém Pode, Folhas de Romã, Flecha de Ogum, Cinco
Folhas, Macaé, Folhas de Jurubeba)
Símbolo
- Espada. (Também, em algumas casas: ferramentas,
ferradura, lança e escudo)
Pontos
da Natureza-
Estradas e Caminhos (Estradas de Ferro). O Meio
da encruzilhada pertence a Ogum.
Flores
- Crista de
Galo, cravos e palmas vermelhas.
Essência
– Violeta
Pedras
- Granada, Rubi, Sardio. (Em algumas
casas: Lápis-Lazúli, Topázio Azul).
Metal
- Ferro (Aço e Manganês).
Saúde
- Coração e
Glândulas Endócrinas
Planeta-
Marte
Dia
da Semana-Terça-Feira
Elemento
– Fogo
Chakra
– Umbilical
Saudação
- Ogum Iê
Bebida
– Cerveja Branca
Animais
- Cachorro,
galo vermelho.
Comidas
- Cará, feijão mulatinho com camarão e dendê.
Manga Espada
Número
- 2
Data
Comemorativa - 23
de Abril (13 de Junho)
Sincretismo
- São Jorge. (Santo Antônio na Bahia)
Incompatibilidade
– Quiabo
Qualidades
- Tisalê,
Xoroquê, Ogunjá, Onirê, Alagbede, Omini, Wari, Erotondo, Akoro Onigbe.
Atribuições
Todo Ogum é aplicador natural da Lei e
todos agem com a mesma inflexibilidade, rigidez e firmeza, pois não se permitem
uma conduta alternativa.
Onde estiver um Ogum, lá estarão os
olhos da Lei, mesmo que seja um "caboclo" de Ogum, avesso às condutas
liberais dos freqüentadores das tendas de Umbanda, sempre atento ao desenrolar
dos trabalhos realizados, tanto pelos médiuns quanto pelos espíritos
incorporadores.
Dizemos que Ogum é, em si mesmo, os
atentos olhos da Lei, sempre vigilante, marcial e pronto para agir onde lhe for
ordenado.
As Características Dos Filhos De Ogum
Não é difícil reconhecer um filho de
Ogum. Tem um comportamento extremamente coerente, arrebatado e passional, aonde
as explosões, a obstinação e a teimosia logo avultam, assim como o prazer com
os amigos e com o sexo oposto. São conquistadores, incapazes de fixar-se num
mesmo lugar, gostando de temas e assuntos novos, conseqüentemente apaixonados
por viagens, mudanças de endereço e de cidade. Um trabalho que exija rotina, tornará
um filho de Ogum um desajustado e amargo. São apreciadores das novidades
tecnológicas, são pessoas curiosas e resistentes, com grande capacidade de
concentração no objetivo em pauta; a coragem é muito grande.
Os filhos de Ogum custam a perdoar as
ofensas dos outros. Não são muito exigentes na comida, no vestir, nem tão pouco
na moradia, com raras exceções. São amigos camaradas, porém estão sempre
envolvidos com demandas. Divertidos, despertam sempre interesse nas mulheres,
tem seguidos relacionamentos sexuais, e não se fixam muito a uma só pessoa até
realmente encontrarem seu grande amor.
São pessoas determinadas e com vigor e
espírito de competição. Mostram-se líderes natos e com coragem para enfrentar
qualquer missão, mas são francos e, às vezes, rudes ao impor sua vontade e
idéias. Arrependem-se quando vêem que erraram, assim, tornam-se abertos a novas
idéias e opiniões, desde que sejam coerentes e precisas.
As pessoas de Ogum são práticas e
inquietas, nunca "falam por trás" de alguém, não gostam de traição,
dissimulação ou injustiça com os mais fracos.
Nenhum filho de Ogum nasce
equilibrado. Seu temperamento, difícil e rebelde, o torna, desde a infância,
quase um desajustado. Entretanto, como não depende de ninguém para vencer suas
dificuldades, com o crescimento vai se libertando e acomodando-se às suas
necessidades. Quando os filhos de Ogum conseguem equilibrar seu gênio impulsivo
com sua garra, a vida lhe fica bem mais fácil. Se ele conseguisse esperar ao
menos 24 h. para decidir, evitaria muitos revezes, muito embora, por mais
incrível que pareça, são calculistas e estrategistas. Contar até 10 antes de
deixar explodir sua zanga, também lhe evitaria muitos remorsos. Seu maior
defeito é o gênio impulsivo e sua maior qualidade é que sempre, seja pelo
caminho que for, será sempre um Vencedor.
A sua impaciência é marcante. Tem
decisões precipitadas. Inicia tudo sem se preocupar como vai terminar e nem
quando. Está sempre em busca do considerado o impossível. Ama o desafio. Não
recusa luta e quanto maior o obstáculo mais desperta a garra para
ultrapassá-lo. Como os soldados que conquistavam cidades e depois a largavam
para seguir em novas conquistas, os filhos de Ogum perseguem tenazmente um
objetivo: quando o atinge, imediatamente o larga e parte em procura de outro. É
insaciável em suas próprias conquistas. Não admite a injustiça e costuma
proteger os mais fracos, assumindo integralmente a situação daquele que quer
proteger. Sabe mandar sem nenhum constrangimento e ao mesmo tempo sabe ser
mandado, desde que não seja desrespeitado. Adapta-se facilmente em qualquer
lugar. Come para viver, não fazendo questão da qualidade ou paladar da comida.
Por ser Ogum o Orixá do Ferro e do Fogo seu filho gosta muito de armas, facas,
espadas e das coisas feitas em ferro ou latão. É franco, muitas vezes até com
assustadora agressividade. Não faz rodeio para dizer as coisas. Não admite a
fraqueza e a falta de garra.
Têm um grave conceito de honra, sendo
incapazes de perdoar as ofensas sérias de que são vítimas. São desgarrados
materialmente de qualquer coisa, pessoas curiosas e resistentes, tendo grande
capacidade de se concentrar num objetivo a ser conquistado, persistentes,
extraordinária coragem, franqueza absoluta chegando à arrogância. Quando
não estão presos a acessos de raiva, são grandes amigos e companheiros para
todas as horas.
É pessoa de tipo esguio e procura
sempre manter-se bem fisicamente. Adora o esporte e está sempre agitado e em
movimento, tendem a ser musculosos e atléticos, principalmente na juventude, tendo
grande energia nervosa que necessita ser descarregadas em qualquer atividade
que não implique em desgastes físicos.
Sua vida amorosa tende a ser muito
variada, sem grandes ligações perenes, mas sim superficiais e rápidas.
Cozinha
ritualística
Cará com
Dendê e Mel
Lave um inhame em sete águas (sete
vezes), depois coloque numa gamela de madeira ou alguidar. Com uma faca (obé),
bem afiado, corte-o na vertical. Na banda do lado esquerdo se passa dendê e na
do lado direito mel.
Paliteiro
de Ogum
Cozinhe um Cará com casca e tudo.
Coloque numa gamela de madeira ou alguidar. Espete palitos de Mariô por toda a
superfície. Pode regar com dendê ou mel.
Feijão
Mulatinho
Cozinhe o feijão mulatinho (ou cavalo)
e tempere-o com cebola refogada no dendê, coloque em um alguidar e enfeite com
7 camarões fritos no dende
Lendas
de Ogum
Como Ogum Virou Orixá
Ogum lutava sem cessar contra
os reinos vizinhos. Ele trazia sempre um rico espólio em suas expedições, além
de numerosos escravos. Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odúduá,
seu pai, rei de Ifé.
Ogum continuou suas guerras.
Durante uma delas, ele tomou Irê e matou o rei, Onirê e o substituiu pelo
próprio filho, conservando para si o título de Rei. Ele é saudado como Ogum
Onirê! - "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado
a usar apenas uma pequena coroa, "akorô". Daí ser chamado, também, de
Ogum Alakorô - "Ogum dono da pequena coroa".
Após instalar seu filho no
trono de Irê, Ogum voltou a guerrear por muitos anos. Quando voltou a Irê, após
longa ausência, ele não reconheceu o lugar. Por infelicidade, no dia de sua
chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio
completo. Ogum tinha fome e sede. Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não
sabia que elas estavam vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se. Quebrou as jarras com golpes de
espada e cortou a cabeça das pessoas. A cerimônia tendo acabado, apareceu,
finalmente, o filho de Ogum e ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e
feijão, regados com dendê, tudo acompanhado de muito vinho de palma. Ogum,
arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência, e disse que já vivera
bastante, que viera agora o tempo de repousar. Ele baixou, então, sua espada e
desapareceu sob a terra. Ogum tornara-se um Orixá.
Lenda de Ogum Xoroquê
Uma vez ao voltar de uma caçada não
encontrou vinho de palma (ele devia estar com muita sede), e zangou-se de tal
maneira que irado subiu a um monte ou montanha e Xoroquê (gritou Ferozmente ou
cortou cruelmente do alto da montanha ou monte), cobrindo-se de sangue e fogo e
vestiu-se somente com o mariwo, esse Ogum furioso chamado agora de Xoroquê, foi
para longe para outros reinos, para as terras dos Ibos, para o Daomé, ate para
o lado dos Ashantis, sempre furioso, Guerreando, lutando, invadindo e
conquistando.
Com um comportamento raivoso
que muitos chegaram a pensar tratar-se de Exu zangado por não ter recebido suas
oferendas ou que ele tivesse se transformado num Exu (talvez seja por isso que
chegue a ser tratado como sendo metade exu por muitos do candomblé). Antes que
ele chegasse a Ire, um Oluwo que vivia lá recomendou aos habitantes que
oferecessem a Xoroquê, um Aja (cachorro), Exu (inhame), e muito vinho de palma,
também recomendou que, com o corpo prostrado ao chão, em sinal de respeito
recitassem o seus orikis, e tocadores tocassem em seu louvor. Sendo assim todos
fizeram o que lhes havia sido recomendado só que o Rei não seguiu os conselho,
e quando Xoroquê chegou foi logo matando o Rei, e antes que ele matasse a
população Eles fizeram o recomendado e acalmaram Xoroquê, que se acalmou e se
proclamou Rei de Ire sendo assim toda vez que Xoroquê se zanga ele sai para o
mundo para guerrear e descontar sua ira chegando ate a ser considerado um Exu e
quando retorna a Ire volta a sua característica de Ogum guerreiro e vitorioso
Rei de Ire.
Ogum dá ao homem o segredo do
ferro
Na Terra criada por Oxalá, em
Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos
caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou
metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da
população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área
maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as
árvores do terreno e aumentar a área de lavoura. Ossãe, o orixá da medicina,
dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e
ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossãe, todos os outros Orixás
tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o
plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então.
Quando todos os outros Orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão, de
ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados, perguntaram a
Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era o
ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram Ogum pelos
benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e até mesmo à
guerra.
Por muito tempo os Orixás
importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só
para si. Os Orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca do que ele
lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta.
Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes
deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro
tiveram sua lança de ferro. Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comendo dos
Orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião saiu para caçar e
passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava
sujo e maltrapilho. Os Orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado.
Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com
os Orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram
rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se,
vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num
lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá
permaneceu. Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o
esqueceram. Todo mês de dezembro, celebravam a festa de Uidê Ogum. Caçadores,
guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de
Ogum. Ogum é o senhor do ferro para sempre.
Ogum livra um pobre de seus
exploradores
Um pobre homem peregrinava por
toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra
sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse
homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o
material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi
ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a
seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as
coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois
conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar
proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse
folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus
amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum
destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. E
assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo.
Ogum chama a Morte para ajuda-lo
numa aposta com Xangô
Ogun e Xangô nunca se reconciliaram.
Vez por outra digladiavam-se nas mais absurdas querelas. Por pura
satisfação do espírito belicoso dos dois. Eram, os dois, magníficos guerreiros.
Certa vez Ogum propôs a Xangô uma trégua em suas lutas, pelo menos até que a
próxima lua chegasse. Xangô fez alguns gracejos, Ogum revidou, mas
decidiram-se por uma aposta, continuando assim sua disputa permanente. Ogum
propôs que ambos fossem a praia e recolhessem o maior número de búzios que
conseguissem. Quem juntasse mais, ganharia. e quem perdesse daria ao vencedor o
fruto da coleta. Puseram-se de acordo.
Ogum deixou Xangô e seguiu
para a casa de Iansã, solicitando-lhe que pedisse a Iku (a morte) que fosse à
praia no horário que tinha combinado com Xangô. Na manhã seguinte, Ogum e Xangô
apresentaram-se na praia e imediatamente o enfrentamento começou. Cada um ia
pegando os búzios que achava. Xangô cantarolava sotaques jocosos contra Ogum.
Ogum, calado, continuava a coleta. O que Xangô não percebeu foi a aproximação
de Iku. Ao erguer os olhos, o guerreiro deparou com a morte, que riu de seu
espanto. Xangô soltou o saco da coleta, fugindo amedrontado e escondendo-se de
Iku. À noite Ogum procurou Xangô, mostrando seu espólio. Xangô,
envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta.
Xangô
Talvez estejamos diante do
Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro Deus
Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá bastante
popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá com especial ascendência
sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão acontece por dois
motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém que cuida da administração,
do poder e, principalmente, da justiça - representa a autoridade constituída no
panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil diversos cultos que
atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais especificamente em Pernambuco e
Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô, talvez porque
naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram
trazidos de África. Na mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a
expressão Xangô de Caboclo, que se refere obviamente ao que chamamos de
Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro,
indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo
faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios,
coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando inquiridos.
Suas decisões são sempre
consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide
sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Na África, se uma casa é
atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos sacerdotes de
Xangô, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os
sacerdotes vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedras-de-raio
formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado genericamente nas
pedras, mas, principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos
raios, sendo o Meteorito é seu axé máximo.
Xangô tem a fama de agir
sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais suas, presentes nas
lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu raio e
eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os
prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto
está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à
flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de
se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.
Xangô não contesta o status de
Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de comum entre ele e Zeus, o
deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie
de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô,
corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca poderia olhar
apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre.
Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores,
sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça
por ele aplicada. Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do
símbolo de Zeus encontrado em
Creta. Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à
justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a
seu respeito, uma intensa atividade amorosa.
Outra informação de Pierre
Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem
carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado,
e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os iniciados de
Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima
um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é simulado.
Xangô, portanto, já é adulto o
suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital e
capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.
Outro dado saliente sobre a
figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Se Nanã é
como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de
seres humanos mortos, Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há quem
diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona,
retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus
filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de
aversão que tem por doenças e coisas mortas.
Deste tipo de afirmação
discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas praticamente todos
aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça,
não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.
Tudo que se refere a estudos,
as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a
Xangô.
Xangô teria como seu ponto
fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo apontado como uma
figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e cantigas, tendo
três esposas: Obá, a mais velha e menos amada; Oxum, que era casada com Oxossi
e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e Iansã, que
vivia com Ogum e que Xangô raptou.
No aspecto histórico Xangô
teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado
sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o próprio
meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de
seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.
Conta a lenda que ao ser
vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel
Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num
profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro - a cadeia das gerações
humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu aspecto divino, é filho de
Oxalá, tendo Yemanjá como mãe.
Xangô também gera o poder da
política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa Rei.
No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos,
lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos
políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou
nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a
decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a
discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o
levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial,
monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de
liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma
conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é um Orixá de fogo,
filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e
orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para
manter-se no poder.
Características
Cor - Marrom – Branca e Vermelha
Fio
de Contas – Marrom Leitosa
Ervas
- Erva de São
João, Erva de Santa Maria, Beti Cheiroso, Nega Mina, Elevante, Cordão de Frade,
Jarrinha, Erva de Bicho, Erva Tostão, Caruru, Para raio, Umbaúba. (Em algumas
casas: Xequelê)
Símbolo – Machado
Pontos da
Natureza – Pedreiras
Flores – Cravos Vermelhos e Brancos
Essência – Cravo (Flor)
Pedras - Meteorito – Pirita e Jaspe
Metal – Estanho
Saúde – Fígado e Vesícula
Planeta – Júpiter
Dia da Semana – Quarta-Feira
Elemento – Fogo
Chakra – Cardíaco
Saudação - Kaô Cabecile
(Opanixé ô Kaô)
Bebida
– Cerveja Preta
Animais
– Tartaruga e Carneiro
Comidas
- Agebô,
Amalá.
Número – 12
Datas
Comemorativas – 24 de Junho -29 de Junho e 30 de Setembro
Sincretismo
- São José,
São Pedro, Moisés, São João Batista, São Gerônimo.
Incompatibilidade
- Caranguejo,
Doenças.
Qualidades
- Dadá,
Afonjá, Lubé, Agodô, Koso, Jakuta, Aganju, Baru, Oloroke, Airá Intile, Airá
Igbonam, Airá Mofe, Afonjá, Agogo, Alafim.
Atribuições
Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo
preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio
e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da
vida a evolução se processa num fluir contínuo.
As Características Dos Filhos De Xangô
Para a descrição dos
arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a Xangô, deve-se
ter em mente uma palavra básica: Pedra. É da rocha que eles mais se aproximam
no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela habilidade
em verem os dois lados de uma questão, com isenção e firmeza granítica que
apresentam em todos os sentidos.
Atribui-se ao tipo Xangô um
físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma discreta tendência para
a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais claramente de acordo com os
Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa). Por outro lado, essa
tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea
bem-desenvolvida e firme como uma rocha. Tenderá a ser um tipo atarracado, com
tronco forte e largo, ombros bem desenvolvidos e claramente marcados em
oposição à pequena estatura;
A mulher que é filha de Xangô
pode ter forte tendência à falta de elegância. Não que não saiba reconhecer roupas
bonitas - tem, graças à vaidade intrínseca do tipo, especial fascínio por
indumentárias requintadas e caras, sabendo muito bem distinguir o que é melhor
em cada caso. Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas
numa vitrina e não em
usá-las. Não se deve estranhar seu jeito meio masculino de
andar e de se portar e tal fato não deve nunca ser entendido como indicador de
preferências sexuais, mas, numa filha de Xangô é um processo de comportamento a
ser cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo pode aproximar-se mais dos
arquétipos culturais masculinos do que femininos; ombros largos, ossatura
desenvolvida, porte decidido e passos pesados, sempre lembrando sua
consistência de pedra.
Em termos sexuais, Xangô é um tipo
completamente mulherengo. Seus filhos, portanto, costumam trazer essa marca,
sejam homens, sejam mulheres (que estão entre as mais ardentes do mundo). Os
filhos de Xangô são tidos como grandes conquistadores, são fortemente atraídos
pelo sexo oposto e a conquista sexual assume papel importante em sua vida.
São honestos e sinceros em
seus relacionamentos mais duradouros, porque para eles sexo é algo vital,
insubstituível, mas o objeto sexual em si não é merecedor de tanta atenção
depois de satisfeito desejo.
Psicologicamente, os filhos de
Xangô apresentam uma alta dose de energia e uma enorme auto-estima, uma clara
consciência de que são importantes, dignos de respeito e atenção,
principalmente, que sua opinião será decisiva sobre quase todos os tópicos -
consciência essa um pouco egocêntrica e nada relacionada com seu real papel
social. Os filhos de Xangô são sempre ouvidos; em certas ocasiões por gente
mais importante que eles e até mesmo quando não são considerados especialistas
num assunto ou de fato capacitados para emitir opinião.
Porém, o senhor de engenho que
habita dentro deles faz com que não aceitem o questionamento de suas atitudes
pelos outros, especialmente se já tiverem considerado o assunto em discussão
encerrado por uma determinação sua. Gostam, portanto, de dar a última palavra
em tudo, se bem que saibam ouvir. Quando contrariados, porém, se tornam
rapidamente violentos e incontroláveis. Nesse momento, resolvem tudo de maneira
demolidora e rápida mas, feita a lei, retornam a seu comportamento mais usual.
Em síntese, o arquétipo
associado a Xangô está próximo do déspota esclarecido, aquele que tem o poder,
exerce-o inflexivelmente, não admite dúvidas em relação a seu direito de
detê-lo, mas julga a todos segundo um conceito estrito e sólido de valores claros
e pouco discutíveis. É variável no humor, mas incapaz de conscientemente
cometer uma injustiça, fazer escolha movido por paixões, interesses ou
amizades.
Os filhos de Xangô são
extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas
e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados,
porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.
Cozinha
ritualística
Caruru
Afervente o camarão seco, descasque-o
e passe na máquina de moer. Descasque o
amendoim torrado, o alho e a cebola e passe também na máquina de moer. Misture
todos esses ingredientes moídos e refogue-os no dendê, até que comecem a
dourar. Junte os quiabos lavados, secos e cortados em rodelinhas bem finas.
Misture com uma colher de pau e junte um pouco de água e de dendê em quantidade
bastante para cozinhar o quiabo. Se precisar, ponha mais água e dendê enquanto
cozinha. Prove e tempere com sal a gosto. Mexa o caruru com colher de pau
durante todo o tempo que cozinha. Quando o quiabo estiver cozido, junte os
camarões frescos cozidos e o peixe frito (este em lascas grandes), dê mais uma
fervura e sirva, bem quente.
Ajebô
Corte os quiabos em rodelas bem
fininhas em uma Gamela ,
e vá batendo eles como se estivesse ajuntando eles com as mãos, até que crie
uma liga bem Homogênea.
Rabada
Cozinhe a rabada com cebola e dendê.
Em uma panela separada faça um refogado de cebola dendê, separe 12 quiabos e
corte o restante em rodelas bem tirinhas, junte a rabada cozida. Com o fubá,
faça uma polenta e com ela forre uma gamela, coloque o refogado e enfeite com
os 12 quiabos enfiando-os no amalá de cabeça para baixo.
Lendas
de Xangô
A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô
acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo que tinha ordens
de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o
exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram
barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé
da montanha onde Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento
rápido, bate com o seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam
raios. E quanto mais batia mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com
eles abatia. Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela
força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os
ministros de Xangô pediam os mesmo tratamento dado aos seus guerreiros,
mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não concordou com Xangô.
- Não! O meu ódio não pode
ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, seus
líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu
machado em direção ao céu, gerou uma série de raios, dirigindo-os todos, contra
os líderes, destruindo-os completamente e em seguida libertou a todos os
prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram a segui-lo
e fazer parte de seus exércitos.
A Lenda da Riqueza de Obará
Eram dezesseis irmãos, Okaram,
Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí, Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin,
Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia e Obará. Entre todos Obará era
o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida
humilde e simples.
Um dia os irmãos foram fazer a
visita anual ao babalaô para fazer suas consultas, e prontamente o babalaô
perguntou: Onde está o irmão mais pobre? Os outros irmão disseram-lhe que avia
se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do
irmão pobre. Como era de costume o babalaô presenteou a cada irmão com uma
lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de
casa. Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo babalaô, Morangas?
Isso é presente que se dê? Abóboras? .
A noite se aproximava e a casa
de Obará estava perto, resolveram então passar a noite lá. Chegando a casa do
irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, Obará pediu a esposa que
preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com tudo o que havia para comer
na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe
deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a come-las.
Na hora do almoço, a esposa de
Obará lhe disse que não havia mais nada o que comer apenas as abóboras que não
estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as fizesse assim mesmo. Quando abriram as
abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e
Obará prosperou.
Tempos depois, os irmãos de
Obará passavam por tempos de miséria, e foram ao Babalaô para tentar resolver a
situação, ao chegar lá escutaram a multidão saldando um príncipe em seu cavalo
branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para
o príncipe perceberam que era seu irmão Obará e perguntaram ao Babalaô como
poderia ser possível e ele respondeu: Lembram-se das abóboras que vos dei,
dentro haviam riquezas em pedras e ouro mas a vaidade e orgulho não vos
deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico.
Foram então os irmãos ao
palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a
Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o fez, mas antes esvaziou
todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora
são vocês que as comerão. E quando o babalaô em visita ao palácio de Obará lhe
disse: Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás. E foi assim que se
explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem, pois
corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.