Outras Religiões Afro-Brasileiras
Toré
O
Toré é uma dança que inclui também práticas religiosas secretas, às quais só os
índios têm acesso. O objetivo ritual do toré é a comunicação com os encantos ou
encantados, que vivem no reino da jurema ou juremá, referência à bebida feita
com a casca da raiz da juremeira. Quanto à dança propriamente dita, ela assume
características diferentes em cada comunidade. Eles dançam em círculos, em
sentido anti-horário, fazendo e desfazendo sucessivas espirais. O grupo dança
formando quatro filas, que fazem variadas coreografias, criando movimentos de
rara beleza. O ritual, que começa por volta das 21h e vai até as 3h da manhã, é
uma dança coletiva acompanhada por cânticos e pelo som de chocalhos feitos de
cabaças. O que mais impressiona no Toré é a força com que todos pisam o chão,
de forma ritmada, juntos, como se fossem uma só pessoa.
Pajelança
Durante o ritual
terapêutico, o pajé reza e fuma ao mesmo tempo, baforando a fumaça do tabaco
sobre o corpo do doente. Enquanto isto sustenta em uma das mãos o maracá, cujo
ruído assinala a aproximação do espírito. O pajé pode alcançar o transe fumando
e hiperventilando continuamente, o que lhe provoca visões que lhe direcionam
para compreender os atos estranhos que se sucedem na aldeia, ou para predizer
sucessos e insucessos.
A pajelança é um ato-ritual
de cura, levada á cabo por vários pajés. Nestas ocasiões eles se reúnem para
fins curativos ou cuidar da realização de um feitiço que beneficie todas as
comunidades participantes do evento.
A crença da pajelança é
assentada na figura do encantamento, ou seja, é um culto á encantaria.
Encantados são os seres invisíveis que habitam as florestas, o mundo
subterrâneo e aquático, regiões conhecidas como "encantes". Os pajés
servem de instrumentos para a ação dos encantados. Para tornar-se pajé, o
indivíduo precisar ter um dom de nascença ou "de agrado" (adquirido).
O Catimbó
A Jurema é uma árvore que floresce no agreste e na
caatinga nordestina; da casca de seu tronco e de suas raízes se faz uma bebida
mágico-sagrada que alimenta e dá força aos encantados do “outro-mundo”. É
também essa bebida que permite aos homens entrar em contato com o mundo
espiritual e os seres que lá residem.
O Catimbó, envolve como padrão a ingestão da bebida
feita com partes da Jurema, o uso ritual do tabaco, o transe de possessão por
seres encantados, além da crença em um
mundo espiritual onde as entidades residem.
Para seus adeptos, o mundo espiritual tem o nome de Juremá e é composto por reinados, cidades e aldeias.
Nestes Reinos e Cidades residem os encantados: os Mestres e os Caboclos. “Cada
aldeia tem três ‘mestres’. Doze aldeias fazem um Reino com 36 ‘mestres’. No
reino há cidades, serras, florestas, rios. Quanto são os Reinos? Sete, segundo
uns. Vajucá, Tigre, Candindé, Urubá, Juremal, Fundo do Mar, e Josafá. Ou cinco,
ensinam outros. Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá e Josafá”.
Troncos da planta são assentados em recipientes de barro e simbolizam as
cidades dos principais mestres das casas. Estes troncos, juntamente com as
princesas e príncipes, com imagens de santos católicos e de espíritos
afro-ameríndios, maracas e cachimbos, constituirão as Mesas de Jurema. Chama-se
Mesa o altar junto ao qual são consultados os espíritos e onde são oferecidas
as obrigações que a eles se deva.
As princesas são vasilhas redondas de vidro ou de louça dentro das quais
são preparadas a bebida sagrada e, em ocasiões especiais, onde são oferecidos
alimentos ou bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou copos, que
normalmente estão cheios com água e eventualmente com alguma bebida do agrado
da entidade.
Os Habitantes do Juremá
Duas categorias de entidades espirituais tem seus assentamentos nas
mesas de Jurema, os Caboclos e os Mestres.
Os Caboclos são
identificados como entidades indígenas que trabalham principalmente com a cura
através do conhecimento das ervas, dão passes e realizam benzeduras com ervas e
folhagens. São associados às correntes espirituais mais elevadas, as que
trabalham para o bem, mas que também podem ser perigosas quando usados contra
alguém. Por isso são muito temidos.
Uma outra categoria de entidades que recebem culto na
Jurema é a dos Mestres. Os mestres são descritos como espíritos curadores de
descendência escrava ou mestiça. Pessoas que, quando em vida, possuíam conhecimento de ervas e plantas curativas.
Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles teriam morrido, se
“encantando”, podendo assim voltar para “acudir” os que ficaram “neste vale de
lágrimas”. Alguns deles se iniciaram nos mistérios e “ciência” da Jurema antes
de morrer. Outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato
desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada.
O símbolo dos mestres é o cachimbo ou “marca”, cujo
poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é “às
esquerdas” ou “às direitas”. Essa relação com a “magia da fumaça” é expressa
nos assentamentos dos mestres, onde sempre se encontra presente “rodias” de
fumo de rolo, nos cachimbos e nas toadas.
As marcas são gravadas nos cachimbos, e indicam as
vitórias alcançadas pelo mestre que o usa. Quando em terra, os mestres já
chegam embriagados e falando embolado. São brincalhões, falam palavrões, mas
são respeitados por todos. Dançam tendo como base o ritmo dos Ilus e a letra
das toadas. Como oferendas, recebem a cachaça, o fumo, alimentos preparados com
crustáceos e moluscos diversos. Com essas iguarias, agrada-se e fortifica-se os
mestres. A bebida feita com a entrecasca do caule ou raiz da Jurema e outras
ervas de “ciência” (Junça, Angico, Jucá, entre outras) acrescidas à aguardente,
é, entretanto, a maior fonte de força e “ciência”, para estas entidades.
Também trabalham no Catimbó as Mestras. Tais mestras
são peritas nos "assuntos do coração", são elas que dão conselhos as
moças e rapazes que queiram casar-se, que realizam as amarrações amorosas, que
fazem e desfazem casamentos.
Juremação
Muitos juremeiros dizem que
“um bom mestre já nasce feito”; contudo alguns ritos são utilizados para
“fortificar as correntes” e dar mais conhecimento mágico-espiritual aos
discípulos. O ritual mais simples, porem de “muita ciência” é o conhecido como
“juremação”, “implantação da semente”, ou “Ciência da Jurema”. Este ritual
consiste em plantar no corpo do discípulo, por baixo de sua pele, uma semente
da árvore sagrada. Existem três procedimentos para isso. Em um primeiro, o
próprio mestre promete ao discípulo e após algum tempo, misteriosamente, surge
a semente em uma parte qualquer do corpo. Um segundo procedimento é aquele em
que o líder religioso realiza um ritual especial, onde dá a seus afilhados a
semente e o vinho de Jurema para beber. Após este rito, o iniciante deve
abster-se de relações sexuais por sete dias consecutivos, período em que todas
as noites ele deverá ser levado em sonhos, por seus guias espirituais, para
conhecer as cidades e aldeias onde aqueles residem. Ao final deste período, a
semente ingerida deverá reaparecer em baixo de sua pele. Num terceiro
procedimento, o juremeiro implanta a semente da Jurema, através de um corte
realizado na pele do braço.
Reuniões e Festas
Uma “Mesa” pode ser aberta
“pelas direitas” ou “pelas esquerdas”. Nas abertas “pelas direitas”, só as
entidades mais elevadas devem se fazer presentes. Incorporadas elas dão passes,
receitam banhos de ervas e defumações.
Quando se abre uma mesa
“pelas esquerdas” qualquer tipo de entidade espiritual pode vir. Os trabalhos
não precisam, necessariamente, visar o mal de alguém, contudo, aberto os
trabalhos por este lado da “ciência”, já é possível devolver aos inúmeros
inimigos, que estão sempre a espreita, os males que estes possam estar fazendo.
Orações e saudações feitas,
canta-se para abrir a "mesa" e chamar os guias. Em algumas casas
estes dão sua presença, afirmando que protegerão seus discípulos durante a
realização dos trabalhos. Subindo o último Índio ou Caboclo, é o momento de
todos, exceto o juremeiro-mor, se prostrarem de joelhos no chão e pedir ao
Juremá licença para entrar em seus domínios; é que os “Senhores Mestres” já vem
chegando...
Os discípulos pedem benção
aos Juremeiros mais velhos na casa. Saúdam com benzenções a Mesa da Jurema e os
artefatos dos Mestres. A Jurema é dita aberta. Os Senhores Mestres começam a
chegar.
É o momento das consultas
que sempre têm clientela certa. Momento onde coisas sérias são tratadas com
irreverência, sem que no entanto percam a gravidade e o apresso dos mestres e mestras, sempre prontos a ajudar a
seus afilhados. Nos casos mais graves, entretanto, o mestre logo marca um dia
mais conveniente, onde poderá realizar "trabalhos em particular". É
assim que o mestre, traz os recursos financeiros necessários para a manutenção
da casa de culto e do seu discípulo. Quando os Mestres se vão, chegam as
Mestras.
O
Candomblé
O Candomblé é uma religião
de origem africana, com seus rituais e (em algumas casas) sacrifícios; através
dos rituais é que se cultuam os Orixás.
O Candomblé é dividido em
nações, que vieram para o Brasil na época da escravidão.
São duas nações com suas
respectivas ramificações:
Nação Sudanesa: Ijexá, Ketu,
Gêge, Mina-gêge, Fom e Nagô
Nação Bantu: Congo,
Angola-congo, Angola.
Desde muito cedo, ainda no século
XVI, constata-se na Bahia a presença de negros bantu, que deixaram a sua
influência no vocabulário brasileiro (acarajé, caruru, amalá, etc.). Em seguida
verifica-se a chegada de numeroso contingente de africanos, provenientes de
regiões habitadas pelos daomeanos (gêges) e pelos iorubás (nagôs), cujos
rituais de adoração aos deuses parecem ter servido de modelo às etnias já instaladas
na Bahia.
Os navios negreiros
transportaram através do Atlântico, durante mais de 350 anos, não apenas
mão-de-obra destinada aos trabalhos de mineiração, dos canaviais e plantações
de fumo, como também sua personalidade, sua maneira de ser e suas crenças.
As convicções religiosas dos
escravos eram entretanto, colocadas às duras penas quando aqui chegavam, onde
eram batizados obrigatoriamente “para salvação de sus almas” e deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus
“donos”.
Primeiros
Terreiros de Candomblé
A instituição de confrarias
religiosas, sob a ordem da Igreja Católica, separava as etnias africanas. Os
negros de Angola formavam a Venerável Ordem Terceira do Carmo, fundada na
igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho. Os daomeanos reuniam-se sob a
devoção de Nosso Senhor Bom Jesus das Necessidades e Redenção dos Homens
Pretos, na Capela do Corpo Santo, na Cidade Baixa. Os nagôs, cuja maioria
pertencia a nação Ketu, formavam duas irmandades: uma de mulheres, a de Nossa
Senhora da Boa Morte, outra reservada aos homens, a de Nosso Senhor dos
Martírios.
Através dessas irmandades
(ou confrarias), os escravos ainda que de nações diferentes, podiam praticar
juntos novamente, em locais situados fora das igrejas, o culto aos Orixás.
Várias mulheres enérgicas e
voluntariosas, originárias de Ketu, antigas escravas libertas, pertencentes à
Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da Igreja da Barroquinha, teriam tomado
a iniciativa de criar um terreiro de candomblé chamado Iyá Omi Asé Airá Intilé,
numa casa situada na ladeira do Berquo, hoje visconde de itaparica.
As versões sobre o assunto
são controversas, assim como o nome das fundadoras: Iyalussô Danadana e
Iyanasso Akalá segundo uns e Iyanassô Oká, segundo outros.
O terreiro situado, quando
de sua fundação, por trás da Barroquinha, instalou-se sob o nome de Ilê
Iyanassô na Avenida Vasco da Gama, onde ainda hoje se encontra, sendo
familiarmente chamado de Casa Branca de Engenho Velho, e no qual Marcelina da
Silva (não se sabe se é filha carnal ou espiritual de Iyanassô) tornou-se a
mãe-de-santo após a morte de Iyanassô.
O primeiro “toque” deste
candomblé foi realizado num dia de Corpus Christi e o Orixá reverenciado foi
Oxossi.
Candomblé de Caboclo
O Candomblé, ao desembarcar
no País com os escravos, encontrou aqui um outro culto de natureza mediúnica,
chamado "Pajelança", praticado pelos índios nativos em variadas
formas. Em ambos os cultos havia a comunicação de Espíritos.
Com o tempo, alguns
terreiros começaram a misturar os rituais do Candomblé com os da Pajelança,
dando origem a um outro culto chamado "Candomblé de Caboclo".
Naturalmente, os Espíritos que se manifestavam eram os de índios e negros, que
o faziam com finalidades diversas.
A exemplo de toda nossa
cultura, o candomblé de caboclo é um a miscigenação de europeus, africanos e
ameríndios, uma verdadeira mistura de crenças e costumes que suas entidades
trazem em suas passagens pela terra conforme suas falanges ou linhas que se
dividem em Caboclos de Pena, a linha só há índios brasileiros, Caboclo de couro
que pertence a linha dos homens que lidavam com gado, marujos que são aqueles
que viviam no mar e outras como os famosos baianos que é a linha que representa
o trabalhador nordestino que padeceu nos sertões brasileiros, assim como falange
de Zé Pilintra que a história conta que foi um "malandro" injustiçado
que se tornou encantado. Estes últimos são mais comuns nos cultos de umbanda da
a região sudeste do país.
Influências Ketu, Gêge,
Catolicismo, Ameríndia
Usam dentro da ritualística
o gongá ou peiji (palavra de origem indígena qu quer dizer altar), onde
misturam imagens de todos os tipos: santos da Igreja Católica, pretos-velhos,
crianças, índios, sereias, etc.
Trazem do Candomblé as
festividades que louvam os Orixás e utilizam os atabaques (ilus); no lugar das
sessões realizam as giras. A vestimenta é igual à do Candomblé; usam roncó,
camarinha, feitura e na saída ocorre a personificação do Orixá (o médium sai
com a vestimenta do Orixá); utilizam sacrifício (matança) de animais.
Nas sessões normais os
caboclos utilizam cocares, arcos, flechas e no que se refere aos trabalhos, o
nome dado é “Mandinga”.
Utilizam o ipadê
ou padê, exigência dos Exús; os cântigos são denominados orikis e misturam
cântigos em português e em
iorubá. Omolocô
Influências: Angola, Congo,
Ketu, Gêge, Catolicismo, Ameríndia.
Também denominado de Umbanda
Mista, Umbanda Cruzada, Umbanda Traçada.
É o mais próximo da Umbanda
do Caboclo das Sete Encruzilhadas; segundo pesquisadores, este Candomblé
estaria em transição para a Umbanda.
UMA SEMANA DE MUITA PAZ
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